22 de março de 2014

Ese lunar que tienes, Cielito Lindo, junto a la boca,



no se lo des a nadie, Cielito Lindo, que a mi me toca.

Memórias de infância, uma das versões mais bonitas de Cielito Lindo e uma descoberta tão boa nestes dias tão incertos - Marta Gómez, uma voz colombiana a não perder de vista. 

London 5.












Pelas ruas da cidade.

Melhor dizendo, pelas ruas das várias cidades que Londres abraça. Cada bairro é um pequeno mundo, um micro-cosmos dentro da grande metrópole cosmopolita, com um ritmo, uma respiração e um colorido diferentes. Londres é uma daquelas cidades capazes de agradar a gregos e a troianos, quase que poderia apostar, tamanha a diversidade de ambientes e cenários à disposição. Há uma Londres mais cultural, outra mais boémia ou ambas as duas ao mesmo tempo; uma mais fashionista, outra mais clássica; uma mais campestre, outra mais nervoso citadino; uma mais cinzenta, outra mais colorida; uma mais cara e outra mais acessível a quem já perde um dinheirão em câmbios. 
É uma daquelas cidades para se ir descobrindo devagarinho e voltar todas as vezes que for possível. A nós, temos a certeza que jamais cansará e que a cada regresso descobriremos recantos não mencionados nos guias turísticos e teremos sempre coisas novas para fazer, ver ou desfrutar. 

21 de março de 2014

London 4.










Notting Hill
Portobello Market, Portobello Road

Sábado. Acordamos com uns raios de sol a espreitar pela janela do quarto e saltámos da cama decididas a aproveitar o dia ao máximo. Depois de um simples, mas muito saboroso pequeno-almoço - aquele chá preto logo pela manhã dava-nos uma energia incrível, as torradas com manteiga e compota de morango sabiam-nos pela vida e a tacinha de cereais com leite era o complemento ideal para começarmos bem o dia, saímos para a rua em direcção a Notting Hill. 
Há refeições de uma simplicidade extrema que nos reconfortam de uma forma ímpar, como o pequeno-almoço composto de café escuro com um pouco de leite e um delicioso pão com manteiga de uma pensão em Viena que eu jamais esquecerei. Este dia, passado entre mercados, bancas de rua, piqueniques improvisados e óptimas aquisições de bens alimentares a preços bastante aceitáveis, teve muito a ver com comida e com a forma como nos relacionamos com ela (a melhor relação possível!), assim como com a certeza que as nossas memórias afectivas, de viagem, etc, passam, em larga medida, por momentos relacionados com pequenas - ou grandes!, degustações gastronómicas. 
Sabíamos que sábado é o dia clássico do Portobello Market, provavelmente o dia mais movimentado, também. No entanto, com umas nuvens negras a fazer cara feia ao sol e a ameaçar chuva a todo o instante, íamos com a esperança que não estivesse muito gente, naquela manhã fria de Dezembro. Redondo engano. A Portobello Road fervilhava de pessoas de todas as nacionalidades, uma imensidão de turistas e um mundo de possibilidades. Por onde começar? Esta é talvez a pergunta que qualquer pessoa faz quando ali chega. Nós começamos sensivelmente a meio da rua, por nenhum motivo especial, simplesmente foi aí que fomos parar depois de andar alguns metros para o lado esquerdo da paragem do autocarro, seguindo a multidão. 
Depois de se estar em pleno mercado, é um pouco indiferente o ponto por onde se começa. Se forem como nós, o mais certo é andarem para trás e para a frente, revisitando banquinhas, lojas que à primeira passagem estavam mais apinhadas (entramos em muito poucas, pois não íamos com o intuito de comprar nada e o tempo não abundava, mas havemos de lá voltar para inspeccionar cada uma como deve ser) e tentando decidir afinal onde e o que é que íamos almoçar. Acabamos a comer as melhores falafel de sempre, enroladinhas num pão pita delicioso e com uma tahine de ir, literalmente, às lágrimas - a Pequenina, que não é lá grande amiga de coisas picantes, ia morrendo após a primeira dentada. Depois de as nossas papilas gustativas se habituarem, não queríamos outra coisa. Foi um prazer imenso saborear aquelas falafel enquanto caminhávamos ao longo do último pedaço de mercado que queríamos ver e a caminho da paragem de autocarro, rumo ao destino seguinte. 
O mercado inteiro é uma perdição: desde as bancas com frutas e legumes às bancas com as mais variadas iguarias, nacionais e importadas; as velharias, as relíquias e os livros de edições antiquíssimas; as roupas mais ou menos alternativas, os discos de vinil com músicas de hoje e de outrora; os mais variados souvenirs, pratos com o rosto da Rainha, o casal-sensação do momento e centenas de bandeirinhas azuis, brancas e vermelhas; chinesices inflacionadas pela Libra e trabalhos mais ou menos originais de artistas à procura do seu momento de glória e reconhecimento. Há de tudo um pouco, para os mais variados gostos e carteiras. O cenário, contudo, é grátis e de todos os que por lá quiserem passar. Só não vão à procura do William Thacker aka Hugh Grant - podemos garantir que a simpática livraria é apenas uma vulgar sapataria, que apesar de ter aproveitado o nome e o lettering do filme não se está a conseguir manter, a julgar pelo cartaz vende-se na montra da loja. 
Andar por Notting Hill (e não, também vos podemos garantir que não vão conseguir descobrir qual era a porta azul afinal!) é como entrar num desenho infantil. Casas de várias cores, tamanhos e feitios, pequenos jardins encantados, as mais inusitadas decorações nas portas, janelas e varandas e uma sensação constante de boa onda, uma coolness não tão pretensiosa como estava à espera. Aqui poderia ser feliz, foi uma frase que repetimos bastante naquele dia.

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Porto, 2014

A Primavera marca o calendário, embora a seja a chuva a dar hoje o ar da sua graça. Eu lá vou arranjando formas de seguir em frente, tentando agarrar-me a tudo o que tenho de bom, enquanto espero a Primavera dentro de mim. Melhores dias virão, e é essa esperança que me mantém à tona.

19 de março de 2014

Dizem que é simples assim.


Hoje está um dia tão bonito lá fora, cheira cada vez mais a Primavera, o meu primeiro sobrinho está a dias de nascer e há pouco, sentindo o sol quente do início de tarde no rosto, quase pude jurar que sim, é simples assim. É claro que a vida me veio logo atropelar todas as certezas, deixando-me em mãos mais um punhado de dúvidas e problemas. Tentar seguir estas sete regras, no entanto, pode não nos resolver a existência mas mal certamente também não nos faz. E quase me atrevo a jurar, uma vez mais, que seríamos todos muito mais felizes e generosos - para com os outros, mas, acima de tudo, connosco. 

17 de março de 2014

Let’s make the feminist revolution a humanist revolution.

So my moment of truth did not come all at once. In 2010, I had the chance to be considered for promotion from my job as director of policy planning at the U.S. State Department. This was my moment to lean in, to push myself forward for what are really only a handful of the very top foreign policy jobs, and I had just finished a big, 18-month project for Secretary Clinton, successfully, and I knew I could handle a bigger job.
0:49The woman I thought I was would have said yes. But I had been commuting for two years between Washington and Princeton, New Jersey, where my husband and my two teenage sons lived, and it was not going well. I tried on the idea of eking out another two years in Washington, or maybe uprooting my sons from their school and my husband from his work and asking them to join me. But deep down, I knew that the right decision was to go home, even if I didn't fully recognize the woman who was making that choice.
1:32That was a decision based on love and responsibility. I couldn't keep watching my oldest son make bad choices without being able to be there for him when and if he needed me. But the real change came more gradually. Over the next year, while my family was righting itself, I started to realize that even if I could go back into government, I didn't want to. I didn't want to miss the last five years that my sons were at home. I finally allowed myself to accept what was really most important to me, not what I was conditioned to want or maybe what I conditioned myself to want, and that decision led to a reassessment of the feminist narrative that I grew up with and have always championed.
2:37I am still completely committed to the cause of male-female equality, but let's think about what that equality really means, and how best to achieve it. I always accepted the idea that the most respected and powerful people in our society are men at the top of their careers, so that the measure of male-female equality ought to be how many women are in those positions: prime ministers, presidents, CEOs, directors, managers, Nobel laureates, leaders. I still think we should do everything we possibly can to achieve that goal. But that's only half of real equality, and I now think we're never going to get there unless we recognize the other half. I suggest that real equality, full equality, does not just mean valuing women on male terms. It means creating a much wider range of equally respected choices for women and for men. And to get there, we have to change our workplaces, our policies and our culture.
4:11In the workplace, real equality means valuing family just as much as work, and understanding that the two reinforce each other. As a leader and as a manager, I have always acted on the mantra, if family comes first, work does not come second -- life comes together. If you work for me, and you have a family issue, I expect you to attend to it, and I am confident, and my confidence has always been borne out, that the work will get done, and done better. Workers who have a reason to get home to care for their children or their family members are more focused, more efficient, more results-focused. And breadwinners who are also caregivers have a much wider range of experiences and contacts. Think about a lawyer who spends part of his time at school events for his kids talking to other parents. He's much more likely to bring in new clients for his firm than a lawyer who never leaves his office. And caregiving itself develops patience -- a lot of patience -- and empathy, creativity, resilience, adaptability. Those are all attributes that are ever more important in a high-speed, horizontal, networked global economy.
5:47The best companies actually know this. The companies that win awards for workplace flexibility in the United States include some of our most successful corporations, and a 2008 national study on the changing workforce showed that employees in flexible and effective workplaces are more engaged with their work, they're more satisfied and more loyal, they have lower levels of stress and higher levels of mental health. And a 2012 study of employers showed that deep, flexible practices actually lowered operating costs and increased adaptability in a global service economy.
6:31So you may think that the privileging of work over family is only an American problem. Sadly, though, the obsession with work is no longer a uniquely American disease. Twenty years ago, when my family first started going to Italy, we used to luxuriate in the culture of siesta. Siesta is not just about avoiding the heat of the day. It's actually just as much about embracing the warmth of a family lunch. Now, when we go, fewer and fewer businesses close for siesta, reflecting the advance of global corporations and 24-hour competition. So making a place for those we love is actually a global imperative.
7:22In policy terms, real equality means recognizing that the work that women have traditionally done is just as important as the work that men have traditionally done, no matter who does it. Think about it: Breadwinning and caregiving are equally necessary for human survival. At least if we get beyond a barter economy, somebody has to earn an income and someone else has to convert that income to care and sustenance for loved ones.
7:59Now most of you, when you hear me talk about breadwinning and caregiving, instinctively translate those categories into men's work and women's work. And we don't typically challenge why men's work is advantaged. But consider a same-sex couple like my friends Sarah and Emily. They're psychiatrists.They got married five years ago, and now they have two-year-old twins. They love being mothers, but they also love their work, and they're really good at what they do. So how are they going to divide upbreadwinning and caregiving responsibilities? Should one of them stop working or reduce hours to be home? Or should they both change their practices so they can have much more flexible schedules?And what criteria should they use to make that decision? Is it who makes the most money or who is most committed to her career? Or who has the most flexible boss?
9:03The same-sex perspective helps us see that juggling work and family are not women's problems, they're family problems. And Sarah and Emily are the lucky ones, because they have a choice about how much they want to work. Millions of men and women have to be both breadwinners and caregivers just to earn the income they need, and many of those workers are scrambling. They're patching together care arrangements that are inadequate and often actually unsafe. If breadwinning and caregiving are really equal, then why shouldn't a government invest as much in an infrastructure of care as the foundation of a healthy society as it invests in physical infrastructure as the backbone of a successful economy?
10:01The governments that get it -- no surprises here -- the governments that get it, Norway, Sweden, Denmark, the Netherlands, provide universal child care, support for caregivers at home, school and early childhood education, protections for pregnant women, and care for the elderly and the disabled.Those governments invest in that infrastructure the same way they invest in roads and bridges and tunnels and trains. Those societies also show you that breadwinning and caregiving reinforce each other. They routinely rank among the top 15 countries of the most globally competitive economies, but at the same time, they rank very high on the OECD Better Life Index. In fact, they rank higher than other governments, like my own, the U.S., or Switzerland, that have higher average levels of income but lower rankings on work-life balance.
11:14So changing our workplaces and building infrastructures of care would make a big difference, but we're not going to get equally valued choices unless we change our culture, and the kind of cultural change required means re-socializing men. Increasingly in developed countries, women are socialized to believe that our place is no longer only in the home, but men are actually still where they always were. Men are still socialized to believe that they have to be breadwinners, that to derive their self-worth from how high they can climb over other men on a career ladder. The feminist revolution still has a long way to go. It's certainly not complete. But 60 years after "The Feminine Mystique" was published, many women actually have more choices than men do. We can decide to be a breadwinner, a caregiver, or any combination of the two. When a man, on the other hand, decides to be a caregiver, he puts his manhood on the line. His friends may praise his decision, but underneath, they're scratching their heads. Isn't the measure of a man his willingness to compete with other men for power and prestige? And as many women hold that view as men do. We know that lots of women still judge the attractiveness of a man based in large part on how successful he is in his career. A woman can drop out of the work force and still be an attractive partner. For a man, that's a risky proposition. So as parents and partners, we should be socializing our sons and our husbands to be whatever they want to be, either caregivers or breadwinners. We should be socializing them to make caregiving cool for guys.
13:38I can almost hear lots of you thinking, "No way." But in fact, the change is actually already happening. At least in the United States, lots of men take pride in cooking, and frankly obsess over stoves. They are in the birthing rooms. They take paternity leave when they can. They can walk a baby or soothe a toddler just as well as their wives can, and they are increasingly doing much more of the housework. Indeed, there are male college students now who are starting to say, "I want to be a stay-at-home dad." That was completely unthinkable 50 or even 30 years ago. And in Norway, where men have an automatic three month's paternity leave, but they lose it if they decide not to take it, a high government official told me that companies are starting to look at prospective male employees and raise an eyebrow if they didn't in fact take their leave when they had kids. That means that it's starting to seem like a character defect not to want to be a fully engaged father.
14:56So I was raised to believe that championing women's rights meant doing everything we could to get women to the top. And I still hope that I live long enough to see men and women equally represented at all levels of the work force. But I've come to believe that we have to value family every bit as much as we value work, and that we should entertain the idea that doing right by those we love will make all of us better at everything we do.
15:35Thirty years ago, Carol Gilligan, a wonderful psychologist, studied adolescent girls and identified an ethic of care, an element of human nature every bit as important as the ethic of justice. It turns out that "you don't care" is just as much a part of who we are as "that's not fair." Bill Gates agrees. He argues that the two great forces of human nature are self-interest and caring for others. Let's bring them both together. Let's make the feminist revolution a humanist revolution. As whole human beings, we will be better caregivers and breadwinners. You may think that can't happen, but I grew up in a society where my mother put out small vases of cigarettes for dinner parties, where blacks and whites used separate bathrooms, and where everybody claimed to be heterosexual. Today, not so much. The revolution for human equality can happen. It is happening. It will happen. How far and how fast is up to us.

A vida é uma série de colisões com o futuro, não é uma soma do que temos sido, e sim do que desejamos ser.

A nossa vida, como repertório de possibilidades, é magnífica, exuberante, superior a todas as historicamente conhecidas. Mas assim como o seu formato é maior, transbordou todos os caminhos, princípios, normas e ideais legados pela tradição. É mais vida que todas as vidas, e, por isso mesmo, mais problemática. Não pode orientar-se no pretérito. Tem de inventar o seu próprio destino. 

Mas agora é preciso completar o diagnóstico. A vida, que é, antes de tudo, o que podemos ser, vida possível, é também, e por isso mesmo, decidir entre as possibilidades o que em efeito vamos ser. Circunstâncias e decisão são os dois elementos radicais de que se compõe a vida. A circunstância – as possibilidades – é o que da nossa vida nos é dado e imposto. Isso constitui o que chamamos o mundo. A vida não elege o seu mundo, mas viver é encontrar-se, imediatamente, em um mundo determinado e insubstituível: neste de agora. O nosso mundo é a dimensão de fatalidade que integra a nossa vida. 
Mas esta fatalidade vital não se parece à mecânica. Não somos arremessados para a existência como a bala de um fuzil, cuja trajectória está absolutamente pré-determinada. A fatalidade em que caímos ao cair neste mundo – o mundo é sempre este, este de agora – consiste em todo o contrário. Em vez de impor-nos uma trajetória, impõe-nos várias e, consequentemente, força-nos... a eleger. Surpreendente condição a da nossa vida! Viver é sentir-se fatalmente forçado a exercitar a liberdade, a decidir o que vamos ser neste mundo. Nem mum só instante se deixa descansar a nossa actividade de decisão. Inclusivé quando desesperados nos abandonamos ao que queira vir, decidimos não decidir. 

É, pois, falso dizer que na vida «decidem as circunstâncias». Pelo contrário: as circunstâncias são o dilema, sempre novo, ante o qual temos de nos decidir. Mas quem decide é o nosso carácter. 

Ortega y Gasset, in "A Rebelião das Massas"