1 de março de 2014

London call.


Westminster Bridge Road

Em Dezembro, uns dias antes do Natal, tive que ir a Londres. Uma chamada para a fase final de um processo de recrutamento levou-me quatro dias a uma das cidades que está na minha wishlist desde sempre. Tinha a certeza que ia gostar, mas a realidade revelou-se ainda melhor e o bichinho londrino mordeu-me de forma irremediável - já só penso na próxima vez!

O facto de ter sido tudo tão em cima da hora não possibilitou grandes planos e um roteiro de viagem muito elaborado. Além disso, um dia quase inteiro foi passado a fazer testes e entrevistas, o que significa que, bem feitas as contas, apenas tive três dias para ver as vistas -  e foi pouco mais do que isso o que fiz.
Com tão pouco tempo para gastar numa das cidades mais empolgantes do mundo, já para não falar no pequeno pormenor de ser uma das mais visitadas, com tanta coisa que queria ver e fazer, tantos monumentos, ruas, museus, parques e um ou outro sítio, mais ou menos conhecido, onde não queria deixar de ir, o processo de selecção e o fica para uma próxima revelaram-se muito difíceis, por isso o melhor mesmo foi seguir o coração, o clima, o humor e a vontade em cada dia, tendo apenas as zonas da cidade previamente delimitadas (mais ou menos). 

Não consegui nenhuma das vagas disponíveis e regressei a Portugal sem trabalho. No entanto, a experiência recorrente de todo o processo foi tão positiva, fui tão bem recebida e tratada, o profissionalismo e o rigor andaram sempre aliados a um sorriso tão franco e a uma disponibilidade tão grande, que apenas posso agradecer a oportunidade e apesar de estar a desesperar por um emprego, não consegui ficar triste. Uma experiência tão diferente das que tenho tido no meu país, salvo raras excepções. Só o facto de não me ter sentido tratada como um número ou apenas mais uma, já fez tudo valer a pena.

Sabia que, caso o desfecho não fosse positivo, pelo menos ganharia uma ida a Londres - paga inteiramente do meu bolso, mas há que agarrar as oportunidades que nos parecem mais acertadas e de outra forma tão cedo provavelmente não iria a terras de Sua Majestade - e como eu estava a precisar de uma escapadinha à rotina, aos problemas e ao cinzentismo generalizado. Ainda para mais, Londres pelo Natal tem uma magia especial. 

É essa breve fugida que vos pretendo mostrar ao longo do mês de Março, através de algumas fotografias, breves descrições e uma ou outra sugestão. Não será um roteiro exaustivo da cidade, bem longe disso. Apenas a partilha de um cheirinho de Londres, a forma como vi e senti a cidade. Na verdade, como vimos e como sentimos, pois não fui sozinha. Mas, amanhã há mais!


28 de fevereiro de 2014

Just live.

O poder da palavra.



Narrator: [Death] I have seen a great many things. I have attended all the world's worst disasters, and worked for the greatest of villains. And I've seen the greatest wonders. But it's still like I said it was: no one lives forever. When I finally came for Liesel, I took selfish pleasure in the knowledge that she had lived her ninety years so wisely. By then, her stories had touched many souls. Some of whom I came to know in passing. Max, whose friendship lasted almost as long as Liesel. Almost. In her final thoughts, she saw the long list of lives that merged with hers. Her three children. Her grandchildren. Her husband. Among them, lit like lanterns, were Hans and Rosa, her brother, and the boy whose hair remained the color of lemons forever. I wanted to tell the book thief she was one of the few souls that made me wonder what it was like to live; that in the end, there were no words. Only peace. The only truth I truly know is that I am haunted by humans.

Não li o livro. Vi o filme ontem à noite e gostei muito. A vida, a morte, a condição humana, a guerra, o poder da(s) palavra(s), o bem e o mal, a beleza das coisas simples, o prazer de aprender. 
Não é certamente o melhor filme de sempre, mas é um filme muito bonito. Para além disso, mostra-nos, mais uma vez, o talento de Sophie Nélisse, cujos rosto e expressividade enchem todo o ecrã e que já me tinha cativado no Professor Lazhar.

Comfort food - zero calorias


Rendi-me logo ao primeiro episódio e aguardo pacientemente pelos próximos, como quem espera por um grupo de amigos para jantar. Trinta minutos de boa disposição, personagens interessantes, humor inteligente e diálogos bem escritos. Meia-hora de comfort food para a alma, assim uma espécie de manta quentinha neste Inverno interminável. É claro que se lhe juntarem um chá de limonete e bolachinhas, as zero calorias passam à história. But who's counting, right?

27 de fevereiro de 2014

Maria

Agosto 2013


Tenho uma filha (do coração) que faz hoje 14 anos. Catorze. Dez mais quatro. Pergunto-me como foi possível o tempo passar tão depressa e aquela bebé de olhos cor-de-azeitona-preta, enormes, uns faróis que me seguiam a cada movimento meu, ser hoje uma mulherzinha com a mania que é gente grande. 

Um dia conto a nossa história. 

Parabéns, Mary Mary!

26 de fevereiro de 2014

Hasta siempre, Paco!



O meu primo Miguel lembrava hoje no Facebook, na sua homenagem a Paco de Lucia, as viagens que fez em criança, entre o Porto e Vimioso com os pais e a irmã, a ouvi-lo, ininterruptamente. Na época achava uma tortura, entediando-se no banco de trás com a Inês ao longo das várias horas de viagem. Mais tarde, uns anitos mais velho e já aprendiz de guitarra, veio a aperceber-se do génio maior que é Paco e hoje despediu-se de um dos seus mestres. Emocionei-me com o seu relato e sei da sinceridade das suas palavras. Também eu conto com muitas viagens Marão acima, Marão abaixo, ainda pela estrada antiga - ou seja, o dobro do tempo - a ouvir a guitarra única do mestre. Ao contrário dos meus primos, nunca me entediou. O som mágico que saía daquelas cordas mexe tanta comigo hoje como na altura. 
Guardo algures uma cassete velinha, gravada por mim, gasta por tantas horas de uso. Eram noventa minutos da guitarra do Paco intercalada com a voz dos três tenores. Ouvi-a vezes sem conta a caminho de Trás-os-Montes, no carro, e no meu walkman, durante passeios por montes e vales ou uma simples volta à vila. Sempre me pareceu que aqueles quatro, entre outros, encaixavam perfeitamente na minha geografia sentimental, a nordeste do país, bem lá no alto. 
Lembro-me da emoção da Andrea da Noel, ainda tão menininha, ao ouvi-los, numa viagem entre Vimioso e Miranda do Douro. Sinto um nó tão grande na garganta e no peito, mas é uma sensação boa, dizia com os olhos mareados, sem nunca desviar o olhar das estrelas. Era o início de uma noite memorável, que culminou já na madrugada do dia seguinte, com uma açorda alentejana servida no alguidar verde de plástico da avó Aninhas, o único suficientemente grande para albergar o repasto tardio de doze saudáveis malucos, que antes andaram a saber de coentros pela vizinhança - salvou-nos a Maria Angelina e a horta da tia Maria, passava já das duas da manhã. Nessa noite de Verão, uma daquelas noites de lua cheia e céu estrelado como só é possível encontrar em Trás-os-Montes (bem sei que as há igualmente bonitas noutros sítios, mas aquele é o meu céu, será sempre mais especial), ouvimos a cassete infinitas vezes, cantando juntamente com os tenores e fazendo um silêncio absoluto sempre que soava a guitarra de Paco. 

Hoje queria estar sob o meu céu, de preferência estrelado, segurando o nó na garganta e o aperto no peito, ouvindo unicamente os teus acordes, Paco. Porque a tua guitarra soará sempre de forma especial no silêncio daqueles montes.

25 de fevereiro de 2014

Recomeço. Bússola. Compassando.

A necessidade urgente de mudança. A vontade imensa de concretizar sonhos-projectos. A constância exigida para levar a bom porto o objectivo traçado.

Tudo isto enquanto me tento reencontrar. A força que me falha constantemente. A energia gasta com problemas alheios. O Inverno que nunca mais acaba. O corpo que suplica por dias mais amenos. Os dias que passam, rotineiros, sem as novidades tão ansiadas. A frustração que aumenta. A tristeza que se cola à pele, aos cabelos baços, às olheiras. A tristeza que dói em cada músculo. A angústia que me consome por inteiro, sempre que me descuido. O sorriso nem sempre conseguido.

A urgência em voltar a escrever. Os pensamentos que se atropelam e as palavras que não saem, uma incapacidade que dura há demasiado tempo. O desamor por cada palavra escrita, o medo de ter perdido a minha voz para sempre.

Os anos que passaram e que deixaram ainda tanto sofrimento, tantas pontas mal resolvidas, tantas dúvidas. A vida que não é fácil mas que não tem que ser sempre cinzenta. Agarrar-me aos meus, às coisas boas que temos. Reconhecer que sou uma privilegiada, em tantos, mas tantos aspectos. Fazer as pazes com a morte, outra vez. Agarrar a vida.

Pyxis, a bússola. O meu norte pode também estar a sul e errância por vezes é sinónimo de raíz.


(Obrigada, minha Pequenina. Somos uma dupla imbatível e eu tenho o logótipo mais bonito.)