21 de março de 2014

London 4.










Notting Hill
Portobello Market, Portobello Road

Sábado. Acordamos com uns raios de sol a espreitar pela janela do quarto e saltámos da cama decididas a aproveitar o dia ao máximo. Depois de um simples, mas muito saboroso pequeno-almoço - aquele chá preto logo pela manhã dava-nos uma energia incrível, as torradas com manteiga e compota de morango sabiam-nos pela vida e a tacinha de cereais com leite era o complemento ideal para começarmos bem o dia, saímos para a rua em direcção a Notting Hill. 
Há refeições de uma simplicidade extrema que nos reconfortam de uma forma ímpar, como o pequeno-almoço composto de café escuro com um pouco de leite e um delicioso pão com manteiga de uma pensão em Viena que eu jamais esquecerei. Este dia, passado entre mercados, bancas de rua, piqueniques improvisados e óptimas aquisições de bens alimentares a preços bastante aceitáveis, teve muito a ver com comida e com a forma como nos relacionamos com ela (a melhor relação possível!), assim como com a certeza que as nossas memórias afectivas, de viagem, etc, passam, em larga medida, por momentos relacionados com pequenas - ou grandes!, degustações gastronómicas. 
Sabíamos que sábado é o dia clássico do Portobello Market, provavelmente o dia mais movimentado, também. No entanto, com umas nuvens negras a fazer cara feia ao sol e a ameaçar chuva a todo o instante, íamos com a esperança que não estivesse muito gente, naquela manhã fria de Dezembro. Redondo engano. A Portobello Road fervilhava de pessoas de todas as nacionalidades, uma imensidão de turistas e um mundo de possibilidades. Por onde começar? Esta é talvez a pergunta que qualquer pessoa faz quando ali chega. Nós começamos sensivelmente a meio da rua, por nenhum motivo especial, simplesmente foi aí que fomos parar depois de andar alguns metros para o lado esquerdo da paragem do autocarro, seguindo a multidão. 
Depois de se estar em pleno mercado, é um pouco indiferente o ponto por onde se começa. Se forem como nós, o mais certo é andarem para trás e para a frente, revisitando banquinhas, lojas que à primeira passagem estavam mais apinhadas (entramos em muito poucas, pois não íamos com o intuito de comprar nada e o tempo não abundava, mas havemos de lá voltar para inspeccionar cada uma como deve ser) e tentando decidir afinal onde e o que é que íamos almoçar. Acabamos a comer as melhores falafel de sempre, enroladinhas num pão pita delicioso e com uma tahine de ir, literalmente, às lágrimas - a Pequenina, que não é lá grande amiga de coisas picantes, ia morrendo após a primeira dentada. Depois de as nossas papilas gustativas se habituarem, não queríamos outra coisa. Foi um prazer imenso saborear aquelas falafel enquanto caminhávamos ao longo do último pedaço de mercado que queríamos ver e a caminho da paragem de autocarro, rumo ao destino seguinte. 
O mercado inteiro é uma perdição: desde as bancas com frutas e legumes às bancas com as mais variadas iguarias, nacionais e importadas; as velharias, as relíquias e os livros de edições antiquíssimas; as roupas mais ou menos alternativas, os discos de vinil com músicas de hoje e de outrora; os mais variados souvenirs, pratos com o rosto da Rainha, o casal-sensação do momento e centenas de bandeirinhas azuis, brancas e vermelhas; chinesices inflacionadas pela Libra e trabalhos mais ou menos originais de artistas à procura do seu momento de glória e reconhecimento. Há de tudo um pouco, para os mais variados gostos e carteiras. O cenário, contudo, é grátis e de todos os que por lá quiserem passar. Só não vão à procura do William Thacker aka Hugh Grant - podemos garantir que a simpática livraria é apenas uma vulgar sapataria, que apesar de ter aproveitado o nome e o lettering do filme não se está a conseguir manter, a julgar pelo cartaz vende-se na montra da loja. 
Andar por Notting Hill (e não, também vos podemos garantir que não vão conseguir descobrir qual era a porta azul afinal!) é como entrar num desenho infantil. Casas de várias cores, tamanhos e feitios, pequenos jardins encantados, as mais inusitadas decorações nas portas, janelas e varandas e uma sensação constante de boa onda, uma coolness não tão pretensiosa como estava à espera. Aqui poderia ser feliz, foi uma frase que repetimos bastante naquele dia.

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