29 de janeiro de 2011

(de conversas nocturnas.)

Aquarela do Brasil
Brasil, meu Brasil brasileiro
Meu mulato inzoneiro
Vou cantar-te nos meus versos
Brasil, samba que dá
Bamboleio, que faz gingar
Ô, Brasil do meu amor
Terra de Nosso Senhor

Abre a cortina do passado
Tira a mãe preta do serrado
Bota o rei congo no congado
Canta de novo, trovador
À merencória luz da lua
Toda canção do seu amor
Quero ver essa dona caminhando
Pelos salões arrastando
O seu vestido rendado

Esse coqueiro que dá côco
É onde amarro a minha rêde
Nas noites claras de luar
Ô, essas fontes murmurantes
Onde eu mato a minha sede
Onde a lua vem brincar
Ô, esse Brasil lindo e trigueiro
É o meu Brasil brasileiro
Terra de samba e pandeiro

Brasil, terra boa e gostosa
Da morena sestrosa
De olhar indiferente
Brasil, samba que dá
Para o mundo se admirar
O Brasil do meu amor
Terra de Nosso Senhor


(de Ary Barroso)

23 de janeiro de 2011

Embalo de sons e palavras em jeito de abraço.

Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei

Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso

Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo

Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento

- Sophia de Mello Breyner Andresen - 



* Para a C. e para a minha Pequenina. Gosto-vos.