25 de julho de 2011

The past is a foreign country.








* They do things differently there (L. P. Hartley)

A caixa haviam-na trazido há já algum tempo da casa dos avós (meus, pais do meu pai). Permanecia fechada, intocada, como a deixaram não sabemos bem há quantos anos. Hoje, a Micas aka my mum, encheu-se de coragem e disse vamos abri-la! 

Foi uma emoção sem fim, o regresso a um passado que conhecemos mal, do qual nos chegaram relatos um pouco distantes e nem sempre precisos. A pequena caixa de madeira com uma placa dourada onde se lê Alexandrina, o nome da minha bisavó, trouxe-nos memórias antigas e fez-nos sentir um pouco mais próximas dos meus bisavós, pais da minha avó paterna, que nenhuma das duas conheceu, por terem falecido muito novos. Dizem que o meu avô morreu de desgosto e de saudades da mulher da sua vida, que havia falecido pouco tempo antes. Gosto de imaginar como seria aquela relação, aquele amor que cruzou oceanos por várias vezes, aquele casal que fez fortuna no Brasil e que depois regressou à Pátria, por querer educar a única filha na terra que os viu nascer.

Comoveu-me, acima de tudo, o cartão em que o meus bisavós anunciam o nascimento de Carmen, a minha avó, ainda sem saberem a vida dura que a esperava após a sua morte, numa altura crucial da vida dela.

Aquela caixa é um verdadeiro tesouro, feito de pequenas relíquias: fotografias, um estojo de costura, canetas de pena, um saco com moedas antigas de Portugal e do Brasil (a Micas diz que estamos ricas!), um exemplar do Comércio do Porto, com a data de 3 de Maio de 1923, que tem um pequeno papel cosido com o recado este jornal não se rasga. A caligrafia talvez seja da minha avó, não conseguimos precisar.

O sol começava a baixar e a sala era inundada por aquela luz dourada de final de tarde estival. Por várias vezes me vieram as lágrimas aos olhos. Tudo aquilo me parecia um filme. A minha mãe com a caixa no colo, os carrinhos de linha, a caixa de papelão da Pharmacia Leal, no Pico dos Regalados, os botões de punho do bisavó Manoel.

De repente apercebi-me que toda eu cabia dentro daquela caixa. Inteirinha.

3 comentários:

Moony disse...

não sei o que escrever... gosto muito é suficiente?*

Mar* disse...

É quanto baste, sim :) *

Anónimo disse...

Que coisa maravilhosa! Um verdadeiro tesouro da vida real.


Camila Faria