17 de março de 2011

Não amaremos como as flores.

Quem ama
fica cheio de não-saber
não pára de procurar

Escrevendo o fulgor do êxtase
percorre o rio do sangue
conhece os horrores da guerra íntima
toda vermelha e crua
fértil em rupturas
incessante nos ataques

Não
nenhum rosto materno sobre o nosso debruçado
nos consolaria
se houvesse esse rosto
essa ternura impossível de entender

Nada nos pode consolar
do excessivo peso do amor
que oprime como a noite
cheia de não-saber
como tudo o que é divino
e inventado

De facto
não amamos como as flores
totalmente simples na sua entrega
Quando amamos
deixamos de ser o que somos
transfigurados pelo desejo
que mata
destrói
violenta tudo

E perscrutando a noite
que a si própria se escava e aplaina
amando
fitamos a intermitência das estrelas
deslumbrados por um brilho extinto
que fere com lentidão sideral
o ermo íntimo do nosso coração

Inatingível sempre
e como tal desejado
o verdadeiro amado

Quem ama
não pára
percorre
o rio do sangue
a guerra íntima

Não
nada nos pode consolar
do peso do amor
do peso do não-saber
do peso do divino
Transfigurados pelo desejo
fitamos as estrelas
deslumbrados
perscrutando
um brilho extinto
que a si próprio
se escava
e aplaina

Como cantar
cheios de não-saber
de guerra íntima
de rupturas

Nenhum rosto
nos pode consolar
do que é inventado

Não
não amaremos como as flores
totalmente simples

O desejo
violenta
tudo
fere
o ermo íntimo do nosso coração

- Ana Hatherly -

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