27 de agosto de 2009

Summer day...


...being my sis!

O perfil do dia que passou...

Quando anoitece 
contorno no meu rosto 
o perfil do dia que passou 
e tudo o que não sou 
me contradiz. 

Quando anoitece 
atravesso um labirinto 
caiado de paixão, 
pretexto circular 
da minha fé. 

Quando anoitece 
faço emergir do abismo 
um instinto quase secreto 
e fujo da noite, 
em vertiginosa simetria com o vento, 
como se fosse um equívoco 
esperar a madrugada 
com a mesma lentidão 
de um acto íntimo. 

Contra um muro branco 
esta lonjura gémea do vento. 

Uma casa ou um regaço 
alternando a desordem 
de corpos molhados 
numa dicotomia simulada 
quando o prazer 
é o reflexo nítido 
de um coágulo de azul 
queimado sobre madrepérolas. 

São corais que no fundo da água 
não quebram as vagas silvestres. 

Nasci agora 
enquanto uma andorinha 
baloiçava no espelho 
atravessado de pólen. 

Sou, sílaba por sílaba, 
o luto ou a negação 
de desumanos deuses. 

Quando anoitece ... 

- Graça Pires -

26 de agosto de 2009

Aspiramos à alta liberdade...

A matéria das palavras
Estamos aqui. Interrogamos símbolos persistentes. 
É a hora do infinito desacerto-acerto.  

O vulto da nossa singularidade viaja por palavras 
matéria insensível de um poder esquivo.  

Confissões discordantes pavimentam a nossa hesitação. 
Há uma embriaguês de luto em nossos actos-chaves.  

Aspiramos à alta liberdade 
um bem sempre suspenso que nos crucifica.  

Cheios de ávidas esperanças sobrevoamos 
e depois mergulhamos nessa outra esfera imaginária.  

Com arriscada atenção aspiramos à ditosa notícia de uma                                                                         
perfeição especialista em fracassos.  

Estrangeiros sempre 
agudamente colhemos os frutos discordantes. 

- Ana Hatherly -

Desencontro

Só quem procura sabe como há dias 
de imensa paz deserta; pelas ruas 
a luz perpassa dividida em duas: 
a luz que pousa nas paredes frias, 
outra que oscila desenhando estrias 
nos corpos ascendentes como luas 
suspensas, vagas, deslizantes, nuas, 
alheias, recortadas e sombrias. 

E nada coexiste. Nenhum gesto 
a um gesto corresponde; olhar nenhum 
perfura a placidez, como de incesto, 

de procurar em vão; em vão desponta 
a solidão sem fim, sem nome algum - 
- que mesmo o que se encontra não se encontra. 

- Jorge de Sena -

I don't suffer from insanity, i enjoy every minute of it! *


* Angelina Jolie



Livro dos amantes

IX  
Pusemos tanto azul nessa distância 
ancorada em incerta claridade 
e ficamos nas paredes do vento 
a escorrer para tudo o que ele invade.  

Pusemos tantas flores nas horas breves 
que secam folhas nas árvores dos dedos. 
E ficámos cingidos nas estátuas 
a morder-nos na carne dum segredo.

- Natália Correia -